Repensando sobre tudo que contribuem para a despersonificação de cada ser, penso que a partir da impossibilidade de alguns entre os adultocêntricos de se libertar de sua carência, abre-se precedentes para dar continuidade ao adoecer através e em cada infante.
Isso já é visto desde púbere, mostra-se mais evidente na primeira infância e, evoluindo assim, talvez nem após a puberdade o descendente de adultos extremamente carentes terão meios de liberdade, muito menos possibilidade de independência.
Refiro-me a aqueles que cresceram e não desenvolveram, os que encantados pelo desejo dos seus pais, em belo dia descobre que o desejo é individual e isso se torna amor quando em harmonia com os demais desejos coexistindo. Mas por cargas d’água não se libertaram desses desejos e tardiamente forçam seus dependentes a realizar seus desejos. Estes são os escravos do adultocentrismo, repassando suas mazelas de geração à geração.
É como tivesse aprendido, com os avós, que não somos sós, que no mais íntimo âmago alguém assumiria as dores da vida e as sararia por nós. Como se o Divino não tivesse maiores projetos para nós e teria que vir abrir portas, mesmo que estás fossem para nossa perdição, que Ele não tivesse dado nenhuma chance de desenharmos nosso futuro, que não existisse livre arbítrio.
E, assim, nos tornássemos adultos débeis, carentes do amor, sonhos e projeções. Até sonhássemos, mas sendo fruto do desejo alheio nunca saciássemos as nossas perspectivas e nunca gozantes adoecêssemos, porque a vida não teria sentido.
Então procriaríamos frustrações e criaríamos desilusões. E do pouco que nós brotasse seguiria o macabro destino desalentador.
E, enfim, nos netos surgem cativos dos desamparados das gerações passadas, tendo que realizar o impossível traçado já falhado pelos avós e genitores.
Neste mundo adoecido do adultocentrismo, a criança e ou a mulher sempre é a responsável pelos descaminhos. Nessa visão, não é de estranhar que ela é base para a hierarquia e visão vertical nas relações humanas.
Neste contexto, o homem é sempre a vítima. Ao longo da constituição do conceito do autismo se viu isso.
Enquanto a abordagem psicanalítica tentando identificar que na sobrecarga da mulher com o engodo da maternagem se escondia a responsabilidade do homem na necessária paternagem, uns perversos, porque só desejosos de lucrar com a dor de estar vivo, distorceram esse discurso e colocou a mulher como culpada e não tratou de dividir as responsabilidades entre os genitores no acompanhamento dos filhos. Essa distorção dos comportamentalistas foi um brinde ao machismo, implícito no adultocentrismo infanticida.
No contemporâneo, mesmo que essa abordagem culposa perdura, acresce a isso a culpabilidade das crianças, em um eufemismo para o infanticídio. Exemplifica tal mal a assistência às pessoas no traço autístico quase que exclusivamente, a base de medicamentos e a enxurrada de terapias enquanto eles tiverem infância.
Destrói-se assim a possibilidade de ternura da ma(terno)&pa(terno), esse terno como sinônimo de evolução na saída do adultocentrismo. E o assassínio da infância.
Eis o dupla carona da morte.
Em suma, a contínua miserabilidade de geração à geração.
Pior que isso não ocorre apenas àquelas famílias que possuem um de seus membros rotulados com o traço autístico.
Isso se dar em todas as famílias que não se debruçam sobre o sentido da vida.
E de formas mais sofisticadas e com requintes mais cruéis.